terça-feira, 25 de novembro de 2008

1º entrada do Safety Car

Em 1973, quando a Fórmula 1 chegou ao circuito de Mosport Park - penúltima parada do campeonato - o título já estava decicido em favor do escocês Jackie Stewart. Por isso mesmo, o clima era mais leve do que o habitual, e os pilotos de ponta entraram mais relaxados no fim de semana do GP. No grid de largada daquela prova, a ordem obedecia à lógica de toda a temporada: a Lotus de Ronnie Peterson aparecia na pole, seguido pela dupla da promissora McLaren, com Peter Revson à frente de Denny Hulme. Emerson Fittipaldi, o outro piloto da Lotus, vinha em quinto, com o campeão antecipado Jackie Stewart apenas em nono. No dia da corrida, uma chuva insistente toma conta do circuito de Mosport, provocando o adiamento da largada.

A pista ainda está completamente molhada quando a prova é autorizada, uma hora após o previsto. Cometendo um sério erro estratégico, o pole Peterson sai com pneus slicks, e não demora a ser superado por todo o pelotão. Com pneus de chuva, Niki Lauda vai de oitavo para primeiro em apenas quatro voltas, numa performance empolgante. O austríaco - ainda um ilustre desconhecido naquela época - estava aproveitando ao máximo o ótimo rendimento dos pneus Firestone em pista molhada. Após 15 voltas, sua vantagem sobre o vice-líder é de 23 segundos. Estaria a vitória garantida? Nada disso.
Safety Car - 1973

A chuva havia parado e a pista secava cada vez mais. Sem alternativa, Lauda vai para os boxes, mas a equipe BRM demora muito e ele perde tempo demais. Com o atraso do austríaco, o inglês Jackie Oliver passa para primeiro, com o francês Jean-Pierre Beltoise em segundo. Então, na volta 24, um caos absoluto se instaura em Mosport: como a pista secava rapidamente, quase todos os pilotos visitam os boxes ao mesmo tempo, para desespero do pessoal da cronometragem, que ainda era manual naquela época. Resultado: os organizadores se atrapalham e, de repente, ninguém sabe mais quem é o líder.

A situação já era extremamente confusa, mas iria piorar ainda mais. Na volta 33, o sul-africano Jody Scheckter e o francês François Cevert batem forte, num acidente causado por Scheckter. Com detritos espalhados pelo circuito, alguém da direção de prova tem a genial idéia de estrear a presença do safety car numa corrida de Fórmula 1. Já tradicional nas corridas norte-americanas, o carro de segurança fora testado com sucesso numa simulação durante o G.P. da Áustria. No Canadá, porém, sua entrada ocorreu no pior momento possível. Dentro do safety car, estão dois homens: Eppie Witzes, um obscuro piloto canadense, e um membro da organização, Peter Macintosh. Este último espera pela passagem de Stewart, que parecia ser o líder. Mas o escocês entra nos boxes exatamente naquele momento, sem que o pobre Macintosh perceba. O safety car sai do pit lane e passeia pela pista meio sem rumo, enquanto Macintosh tenta se comunicar com a torre de controle para saber quem está em primeiro.

Safety Car - 1993
Quem é o líder?'', pergunta ele. A resposta: ''O carro 25''. Macintosh volta a questionar seus superiores duas vezes, sem acreditar na respota. Depois de receber a confirmação, o safety car se posiciona na frente do carro em questão, o do neozelandês Howden Ganley. Piloto da pequenina equipe de Frank Williams, Ganley não acredita no que está acontecendo. Faz vários gestos ao box, tentando entender se ele estava realmente em primeiro. Na verdade, não estava.No meio do caos, o safety car deixa três pilotos passarem: Revson, Oliver e Beltoise. O trio alinha no fim do pelotão e coloca uma volta de vantagem sobre os outros. Naquele momento, porém, ninguém sabia disso. Para o público e para os organizadores, o ponteiro é Ganley, que vive o ponto alto de sua carreira. "Nunca guiei tão depressa na minha vida. Bufei tanto que quase fiquei sem respirar", disse ele mais tarde sobre as primeiras voltas após a saída do safety car. Não demora muito para que Ganley perca a ''liderança'' para Emerson, que logo abre distância.

Mal sabia o brasileiro que ele era apenas o quarto, com quase uma volta de desvantagem para Revson, Oliver e Beltoise. Quando a equipe percebe a confusão, Emerson acelera e começa a diminuir a distância para o trio. Nesta fase da corrida, o placar do circuito de Mosport troca cinco vezes o nome do líder, alternando entre Ganley, Oliver e Emerson. Finalmente, o nome do brasileiro aparece no topo. Mas, nos boxes, o boato é que Oliver ocupa a liderança! Emerson acelera e, depois de superar Beltoise, alcança o inglês na última volta e realiza a ultrapassagem a poucas curvas da bandeirada. Colin Chapman, o legendário dono da Lotus, comemora a vitória de Emerson ao seu estilo, jogando para cima seu boné preto da JPS. Mas o triunfo não estava garantido. Completamente perdidos, os organizadores dão a bandeirada final para Ganley, que na verdade era apenas o sexto! A corrida termina, só que ninguém sabe quem ganhou. A direção de prova debruça-se sobre as planilhas, tentando descobrir o enigma.

Safety Car - 2008

Enfim, após quatro horas de longa discussão, chega o resultado oficial. O vencedor é Peter Revson. Após sair de segundo no grid, o americano caiu para último na largada, mas contou com a sorte para se recuperar. No momento em que o safety car entrou na pista, Revson acabou se beneficiando do erro dos organizadores e abriu uma volta de vantagem sobre o resto. Mais tarde, o americano ultrapassou Oliver quando este teve problemas no acelerador e permaneceu na ponta até o fim, sem que ninguém percebesse. A equipe Lotus ainda contesta a decisão, mas Revson fica com o triunfo. Foi a segunda e última vitória de Revson, o piloto que era herdeiro da marca de cosméticos ''Revlon'' (vale um parênteses: no início da carreira, o americano mudou o sobrenome para correr escondido da família, e nunca mais usou o nome de batismo de novo). Quanto ao safety car: seu retorno só aconteceria vinte anos mais tarde, no G.P. Brasil de 1993. A bizarra estréia do "carro-madrinha", porém, ficaria marcada para sempre como um dos maiores MICOS da F1.

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